A cintura baixa é mesmo vilã?

Que a moda é cíclica você já sabe, e com certeza já sabe também que as tendências de moda dos anos 2000 voltaram, nestas últimas temporadas, com força total. Muitas dessas tendências ressurgiram em versões atualizadas – e outras nem tanto – junto com todas as polêmicas da década que para muitos, é a mais cafona da moda. E claro, entre essas polêmicas, nós temos ela: a cintura baixa! Não tão baixa, não tão justa e não tão desconfortável como nos anos 2000, mas é ela.

Versace SS25 Ready to Wear – eu AMEI esta coleção.

Mas se você acredita que ela surgiu nos anos 2000, aqui vai um plot twist: a cintura baixa existe desde os anos 60, quando era conhecida por calça Saint Tropez, em referência à cidade francesa que era o lugar favorito para as férias de verão de celebridades e de pessoas que pertenciam às classes mais altas da sociedade. Já nos anos 70, a calça de cintura baixa se tornou uma febre entre as comunidades hippies e bohêmias – coincidentemente, não só os anos 2000 continuam em alta hoje, como estamos vendo também uma volta fortíssima do estilo boho e dos anos 70 que já saiu das passarelas e caiu no gosto do público.

Página de revista dos anos 70. A calça era chamada também de “hip-huggers”, que em português significa “abraçadoras de quadris”, em referência ao osso do quadril ao qual a peça se apoiava.

Indo para os anos 2000, já sabemos que ela foi um ícone e se você viveu aquela época, dificilmente não usou uma delas. Eu estava no início da minha adolescência, e quem não tinha uma calça de cintura baixa não era considerado “cool”. Me lembro até de uma vez na escola, em que uma colega de classe questionou a minha calça – que era reta e de cintura mais alta – e se eu não gostava de calças como a dela – que era de cintura baixa e “boca larga”, famosa flare. Claro que alguns anos usando cintura baixa para uma adolescente em crescimento surtiram alguns efeitos, e até hoje tenho as famosas “marquinhas” acima do quadril. Mas essa não é a principal problemática da calça de cintura baixa, pois, como nós já sabemos, junto com ela uma outra “tendência” está de volta: a da magreza extrema.

Cristina Aguilera foi uma das celebridades que mais aderiu à cintura baixa.

Nos anos 2000 as celebridades exibiam corpos super magros, mas mais do que isso, era normal e muito comum falar sobre eles. As revistas de moda da época refletiam essa busca por uma magreza extrema de uma forma descaradamente nada saudável: dieta da lua, dieta do sol, dieta da água, jejum, dieta da salada, e mais um monte de dietas incabíveis que prometiam resultados milagrosos, sem nenhuma preocupação com as consequências para a saúde física ou mental que isso poderia trazer. As entrevistas de celebridades da época frequentemente tocavam no assunto do corpo perfeito, buscando por “segredinhos para manter a forma”. Que cenário assustador, não é mesmo? Naquela época não tínhamos as discussões que temos hoje em dia, e o preço por isso era muito caro. Era muito comum modelos desenvolverem quadros de disfunção de imagem, como bulimia e anorexia. É, meu amor. A moda é um universo incrível, mas também pode ser um universo assombroso.

Será que evoluímos mesmo?

Dando um salto dos anos 2000 para os dias atuais, será que este cenário está tão distante? Nestes últimos tempos, as redes sociais nos possibilitam debates que nos renderam algumas conquistas. Mas ao mesmo tempo, o alto uso das redes sociais está trazendo de volta uma busca por perfeição que é surreal, e ao meu ver, tão assustadora – ou mais – do que aquela busca presenciada anos atrás que a gente procura tanto deixar no passado. Não só a magreza extrema tem aparecido novamente, como agora, novos padrões surgem para que a gente fique cada vez mais insatisfeita com a própria imagem. O Brasil é o país que mais realiza cirurgias plásticas no mundo, você sabia disso? E somos também um dos países que passa mais tempo nas redes sociais. Quando entramos nas redes, nos deparamos com uma enxurrada de conteúdos que retratam uma beleza irreal: foxy eyes, preenchimentos labiais que passam dos limites, harmonização que muitas vezes desarmoniza tudo, rinoplastia em narizes que já nasceram bonitos e perfeitamente harmônicos para os rostos que os carregam, e vez ou outra, alguma triste notícia de alguém que perdeu a vida em um procedimento estético arriscado. Não me entenda mal: eu não estou aqui para demonizar os tratamentos estéticos. Eu estou aqui para questionar: PARA QUÊ?

A moda reflete o nosso comportamento, mas antes, é o nosso comportamento que reflete na moda. Então quando olhamos para a cintura baixa, será que ela é a errada da história, ou será que ainda não aprendemos a lidar com padrões de beleza? Será que uma calça pode ser tão problemática, ou será que ela apenas coloca o dedo na ferida? É preciso questionar o porquê de, justamente quando temos a volta de uma calça que mostra mais o corpo, estes corpos voltam a emagrecer, como se corpos fortes ou gordos não pudessem ser vistos. Spoiler: o problema não está na cintura baixa.

Não adianta olharmos para uma peça de roupa enquanto não olhamos para nós, como sociedade, e para as coisas erradas que aprendemos a pensar no meio do caminho. Será que a cintura baixa só favorece aos corpos magros, ou será que fomos ensinados de que somente corpos magros é que podem ser vistos? Será que não estamos voltando para aquele pensamento de que somente o corpo magro pode ser bonito, sexy e atraente? Ou será que, no fundo, nunca deixamos este pensamento no passado? Longe de mim ser aqui a defensora real oficial da cintura baixa (apesar de assumir que eu gosto sim, com moderação), o que eu quero dizer é que estamos errados em jogar um problema para uma peça de roupa, quando na verdade ela é só a ponta do iceberg.

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Quem sou eu?
Oi! Eu sou Kátia Malagodi, criadora do site DMF. Com formação em Consultoria de Imagem pelo SENAC, consultoria de moda certificada pela ABED, modelo profissional, publicitária e com muita experiência em comunicação e redação de moda desde 2017, trago aqui todo meu conhecimento pra te ajudar na construção de estilo pessoal, e principalmente, a encontrar a sua melhor versão. Apaixonada por moda sem regras, beleza sem crueldade, livros e música, criei o DMF em 2016 pra compartilhar algumas ideias, e de lá pra cá aprendi muito e me apaixono cada vez mais pelo que faço! Me siga no Instagram @katiamalagodi  e no @docemaldadefeminina também pra acompanhar conteúdos exclusivas! Te encontro por lá!
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