Recentemente, no reality show mais visto do Brasil, três casos de assédio chamaram a atenção do país inteiro. Na mesma semana, um cantor lança uma música chamada “Reladinha”, cujo cenário do vídeo clipe é dentro de um ônibus, local onde ocorrem incontáveis casos de assédio todos os dias. A chamada “reladinha” nada mais é do que o ato de encostar as partes íntimas, na maioria das vezes em mulheres, sem o seu consentimento.
A gravidade da situação aqui é vermos que, em dois casos diferentes de mídias e personalidades que atingem ao grande público, que tem alcance em todo o país, escancaram de uma forma a incentivar a existência de algo que estamos lutando pra mudar na sociedade, e que muitos ignoram e por muitas vezes, dizem não existir.
Cultura do assédio
Por um lado, um reality show cheio de gente jovem, que deveria ter uma mentalidade mais desconstruída, mais atual, principalmente com relação a assédio, que é um assunto tão abordado nos dias atuais, mostra homens assediando mulheres com a maior facilidade possível, sem sequer se preocupar em serem vistos por milhões de pessoas. OU SEJA, ou eles acreditam que esse tipo de comportamento é normal, e NÃO É, ou eles simplesmente não se importam com o que estão mostrando, porque sabem que isso não só é aceito por muitos como para muitos outros, não é visto como assédio.
E de um outro lado, temos um cantor que lançou uma música que claramente insinua que não tem problema dar uma “reladinha” em mulheres dentro do transporte público. E ele tem essa postura, novamente, porque as pessoas aceitam ou porque acreditam que não é assédio, que não tem nada demais.
Quando nós falamos em “normalização do assédio”, nos referimos a justamente isso: de banalizar o assédio, de aceitar. E normalizar e aceitar não é só fazer “vista grossa” ou concordar com isso, mas quando consumimos esse tipo de entretenimento, nas entrelinhas estamos dizendo “olha, eu sei que é errado, mas eu gosto, então eu ignoro” ou “não, eu não acho que isto está errado”. Cultura do assédio é o que aceita e normaliza o assédio, porque já estamos, infelizmente, “acostumados” a isso há tanto tempo, que a sociedade aprendeu a não ver ou a ver com outros olhos. E se uma mulher que foi assediada afirma que não se sentiu assediada, não é porque ela gostou ou não se sentiu violada, mas sim porque na maioria das vezes ela tem medo de que não acreditem nela, porque a culpa cai sobre a vítima.
Assim como já escutamos incontáveis vezes “mas o que estava fazendo em tal lugar? Com tal roupa? Com tal pessoa? A tal hora?” como se a liberdade de uma mulher, de ir e vir, de se vestir, de se relacionar, definisse se ela pode ou não ser assediada – ou estuprada.
O que estamos lutando para mudar, é esse pensamento, de que assédio pode ser aceito, perdoado, e cometido novamente. Em tempos de luta para quebrar esses tipo de comportamento, que ainda apresenta resistência e indiferença de uma grande parcela da sociedade, esse tipo de entretenimento, por mais que seja problematizado, é um desserviço à luta de todas as mulheres que já foram assediadas na rua, que já foram “reladinhas” no transporte público, que já sofreram abusos, estupros, porque a mensagem que um programa ou uma música dessa passa ao seu público (que geralmente é o mais resistente, porque a bolha da “desconstrução” ainda está em maior força na internet) é que justamente, é normal. E como é que você vai convencer alguém que resiste a pensar dessa forma, que ele está errado, consumindo o mesmo entretenimento? Como vamos desconstruir os mais resistentes se ao passo que trazemos uma nova forma de pensar, alguém que tem o poder da influência faz o oposto?
Não cabe a mim dizer o que as pessoas devem ou não assistir ou que música eles devem ou não escutar, mas devemos pensar que justamente, as grandes mídias, que deveriam fazer o melhor trabalho possível de conscientização contra o assédio – e outras mazelas da nossa sociedade – não só permitem, como incentivam e distribuem uma cultura que vai contra todos os direitos que buscamos com muita luta, tudo em nome do dinheiro.
__
Quem sou eu?
Criadora do DMF, publicitária, modelo, vegetariana, apaixonada por moda sem regras, beleza sem crueldade, livros e música. Criei o blog DMF em 2016 pra compartilhar algumas ideias, e de lá pra cá aprendi muito e me apaixono cada vez mais pelo que faço! Me siga no Instagram @katiamalagodi pra acompanhar mais dicas e conhecer um pouco da minha rotina sem rotina, e siga o @docemaldadefeminina também pra acompanhar dicas exclusivas do Insta! Te encontro por lá!