Foi coroada a Miss Universo 2019, para a alegria, representatividade e comoção de muitos, e para o incômodo de outros. Pela quinta vez na história do concurso, uma mulher negra é vencedora, e isso, em 67 anos de concurso. As mulheres negras que já receberam o título de Miss Universo representam apenas 7% das misses, em toda a história. Dessa vez, a vencedora é a sul-africana Zozibini Tunzi, de 25 anos.
Num mundo onde o ideal de beleza feminino predominante é ter cabelos longos, lisos, nariz fino e arrebitado, seios fartos, olhos claros, uma mulher negra, com traços fortes, de cabelos curtos, e sensualidade sutil, nada apelativa, chama a atenção para uma beleza que além de trazer representatividade para milhões de mulheres, mostra que a admiração pela beleza realista, mais natural, está em falta.
O Racismo Existe, Só Não Vê Quem Não Quer
Como a internet é “terra de ninguém”, claro que já estamos vendo o racismo escondido por detrás de justificativas como “não achei ela bonita, não mereceu”. Mas o que vem depois da opinião pessoal, é sempre um incômodo por ver uma mulher negra em ascensão. Isso, inclusive, me lembra ao feminismo e ao movimento sufragista retratado no livro de Angela Davis, “Mulheres, Raça e Classe”, movimentos que buscavam a independência, o direito de voto, o direito de escolha – DA MULHER BRANCA.
Comentários maldosos, comparações, a justificativa de que não foi merecido, e até absurdos, como os dos prints que eu mesma tirei, são tentativas de esconder a ignorância, de se achar superior ou mais merecedor, mais digno do que alguém, julgando pela cor da pele. O que as pessoas deixam de ver nelas mesmas é como o racismo está “velado” só esperando uma oportunidade de despejar seu veneno gratuitamente.
Agora vamos analisar a situação de fora do nosso umbigo, deixando de lado o fato de acharmos ou não a vencedora uma mulher bonita ou merecedora da coroa: concursos de Misses são um incentivo à baixa auto-estima das mulheres. Uma competição onde mulheres altas, magras e bonitas recebem um título de “a mais bonita” de algum lugar específico, reforçando o estereótipo de feminilidade que foi construído na base do machismo. Quem se identifica com uma miss? Quem olha para essas mulheres, e pensa: “sim, eu poderia estar lá?” Eu nunca pensei dessa forma e quase ninguém que eu conheça. Se você for linda, perfeita da cabeça aos pés, mas tiver uma celulite na perna, querida, sinto muito, mas ainda não está dentro do padrão “Barbie”.
Uma mulher negra fazendo sucesso incomoda muita gente
Desta forma, o fato de pela quinta vez, em toda a sua história, em 67 anos (sim lembra desse número: SESSENTA E SETE ANOS) uma mulher negra ser coroada como Miss Universo, apesar de ser um concurso de beleza que foge totalmente da realidade, traz representatividade para muitas nações que nunca puderam comprar uma boneca negra, por exemplo, e com isso cresceram achando que seus cabelos não eram bonitos, que sua pele não era bonita. Uma Miss Universo de cabelos curtos quebra totalmente o paradigma de que mulher precisa ter cabelão pra ser bonita, coisa que, se você já usou os cabelos curtos como os dela, como eu mesma já usei, deve ter escutado muito de gente desocupada.
Para os opressores, os preconceituosos, os ignorantes, tudo o que foge da bolha restrita de raiva na qual eles vivem, incomoda, e então continuamos vendo a mesma historinha: a da Ariel Negra, do SuperMan negro, da jornalista que foi ofendida na internet, do taxista que foi cuspido pela passageira que afirmou com vontade “eu sou racista sim”, dos adolescentes que segundo a família tradicional brasileira (que não fuma maconha em baile funk, só toma balinha em rave) morreram porque não estavam em casa, e por aí vai.
Se o resultado de um concurso de beleza que não vai mudar a vida de ABSOLUTAMENTE NINGUÉM além dos envolvidos incomoda tanta gente, a gente precisa de muitas misses negras, de muitas jornalistas negras em horário nobre, de muitas sereias negras, do Dia da Consciência Negra SIM, a gente precisa de muito mais do que representatividade, precisa de força e de presença. Se eu te incomodo, então mude você de lugar, porque eu cheguei com esforço e luta, vim pra vencer e não vou voltar.
__
Quem sou eu?
Criadora do DMF, publicitária, modelo, vegetariana, apaixonada por moda sem regras, beleza sem crueldade, livros e música. Criei o blog DMF em 2016 pra compartilhar algumas ideias, e de lá pra cá aprendi muito e me apaixono cada vez mais pelo que faço! Me siga no Instagram
@katiamalagodi pra acompanhar mais dicas e conhecer um pouco da minha rotina sem rotina, e siga o
@docemaldadefeminina também pra acompanhar dicas exclusivas do Insta! Te encontro por lá!