Uma das coisas que mais me chamou atenção nestas últimas semanas de moda foi o desfile da Balenciaga. Para além de toda estranheza que faz da marca sua identidade, a magreza exagerada das modelos gritou mais do que as roupas. Em um tempo em que a tal da “diversidade na moda” é assunto em alta, a gente consegue ver um retrocesso em uma das feridas que mais doem. Será que esta magreza extrema vai ser normalizada, ou pior, requisitada de novo?
Não é de hoje que a magreza extrema está de volta. Em outubro de 2022, quando eu me apresentava para os castings de uma das semanas de moda mais conhecidas, mesmo com o apoio do meu agente que fazia questão de dizer que eu tinha uma passarela impecável, a pergunta que eu recebia das “marcas” era sempre a mesma: “QUANTO VOCÊ TEM DE QUADRIL?”. Eu, que na época estava pesando 55kg pra 1,76cm de altura, media míseros 91cm de quadril com muito esforço. Eu estava MAGRA mas não era suficiente, nem mesmo para as marcas que levantam a bandeira da diversidade. Os anos 2000 estavam voltando com tudo, e pra caber nessa era, eu precisava abaixar o meu manequim de 36 para 34. Sim. Eu, uma mulher adulta. Quando me disseram que eu tinha que perder mais quadril para chegar a no máximo 89cm, eu decidi que não faria isso de forma alguma. Muito menos para desfilar em eventos que na maioria das vezes não oferecem cachê, nos quais o nosso pagamento é uma suposta visibilidade.
A gente ouve a conversa da “diversidade na moda” e acredita, por um momento, que as coisas estão mudando, mas na prática não é assim que funciona. Enquanto temos por exemplo uma Karoline Vitto, que aposta no body positive e dá espaço para mulheres com corpos diversos, vemos um movimento oposto que revive a estética da heroin chic, ignorando o fato de que esta moda deveria ter ficado lá no passado, apenas como um exemplo do que não repetir.
Nós já sabemos de toda a problemática que envolve essa influência de um padrão de beleza e de um padrão corporal que para a maioria das mulheres e meninas é impossível de atingir. Já discutimos isso há décadas. Mas algo que não discutimos muito, que não é muito falado, é o impacto que a imposição desse padrão tem para as modelos. O quanto essa cobrança impacta diretamente na nossa saúde mental e na nossa saúde física. Até hoje eu olho meu quadril no espelho com outros olhos: eu nunca tive problemas com ele, mas depois de tanto ser cobrada, sempre que visto uma roupa que marque um pouco mais as minhas curvas, sinto um ligeiro incômodo, como se fosse feio mostrar que tenho um corpo de mulher adulta. Só que este pensamento não é meu. Agora se pergunte: o quanto essas modelos que estão em um desfile atrás do outro, como o da Balenciaga, precisam lutar contra o próprio corpo para caber naquela caixinha? E não me diga que “as modelos já sabem disso” ou que “só se torna modelo quem já é magra” porque, na prática, é bem diferente. As cobranças começam depois. É um padrão corporal tão difícil de encontrar, que muitas vezes as modelos são contratadas pela sua altura, pela sua beleza, para somente depois definir medidas.
O retorno do Victorias’s Secret Show e as “cotas para diversidade”
Tivemos o esperado retorno do famoso e problemático Victoria’s Secrets Show com direito a angels e tudo mais, mas sem o ardor de antigamente. Após tantos envolvimentos em polêmicas, inclusive, a falta de diversidade nos shows, a marca parece não ter feito a lição de casa. Não só as modelos estavam super magras, como foram pouquíssimos corpos plus size na passarela, e os poucos que ali estavam, eram os mais cobertos, como se tivessem sido selecionados a dedo para aquelas lingeries específicas. A tão esperada presença de Bella Hadid, a nepobaby que a gente respeita, magérrima, após um longo período afastada das passarelas para cuidar da saúde.
Até a queridinha Kate Moss pisou na passarela coberta por rendas. Adriana Lima, que foi por nove anos a modelo mais emblemática da marca, foi recentemente alvo de sites de fofocas, por ter ganhado peso com a sua última gravidez, como se toda a história, o talento e a beleza da modelo que é uma das mais belas que esse mundo já viu, tivessem sido anulados, desconsiderando que essas mudanças são completamente naturais para mulheres que são mães.
Os corpos magros devem ser excluídos da moda?
Não, eu não diria que os corpos magros devem ser excluídos da moda porque isso iria contra a própria prática de corpos diversos. Se todos os corpos merecem e precisam de espaço, os corpos magros também merecem e devem estar lá. Mas não somente eles e não sob pressão. Quando nós vemos um desfile no qual o casting inteiro estava no mesmo padrão, sabemos que isso foi uma exigência do cliente, e o questionamento que fica é: o que este cliente quer dizer com isso? Pra quem ele quer se comunicar?
Em tempos de redes sociais, não há controle sobre nenhuma informação pública, não sabemos e não temos como controlar o alcance das coisas. Para muitas adolescentes que estão começando a se encontrar no mundo, estão começando a se olhar, a entender sua própria beleza, essa reprodução de um padrão estético arriscado é perigosa. Um exemplo claro disso: o Brasil é o país que lidera o número de cirurgias plásticas no mundo, e o terceiro país que mais usa redes sociais. E o que vemos nas redes sociais? Padrões de beleza irreais, tão irreais que recorrem a, justamente, cirurgias plásticas.
A moda é, entre muitas outras coisas, comunicação, portanto, deve ter responsabilidade com as mensagens que passa. Não podemos simplesmente ver corpos cada vez mais magros, uma Kim Kardashian negando suas curvas, e considerar isso normal. Nós já conhecemos esta história.
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