Se está magra, está doente, é feio. Se está gorda, “olha a saúde”, é feio. Se tem celulite, está acabada, é feio. Se tem músculos, parece um homem, é feio também. Agora vamos falar dessa forma: Bruna Marquezine, feia. Cléo Pires, feia. Paola Oliveira, feia. Gracyanne Barbosa, feia também. Mulheres consideradas lindas, sensuais, que são inspirações para muitas outras mulheres, ainda assim não fogem às duras críticas de quem se acha dono da beleza.
Numa sociedade que vive em função da imagem, nenhuma beleza é suficiente
Verdade seja dita: é impossível agradar a todos. Mas o que “agrada”, nos dias atuais, é mais um padrão de beleza intocado, inalcançável, do que a realidade da nossa diversidade. E por mais que “desagrade” – o que eu particularmente não entendo, porque a forma física de outra pessoa não tem nada a ver com mais ninguém além dela mesma, sendo assim não faz sentido um corpo desagradar a alguém – é completamente desnecessário o tipo de comentário que não só reforça a ideia equivocada de que a mulher deve ser perfeita, como tem influência direta na forma como nós mesmas nos vemos e aceitamos nosso corpo e nossas características físicas. Como se a nossa imagem superficial fosse mais importante do que tudo o que forma nosso caráter, nossa personalidade.
E o mais cruel disso tudo, é que na maioria das vezes, esses comentários são feitos por outras mulheres. E quem é a mulher que nunca teve sua beleza comparada com o padrão de beleza de outras mulheres? Ou que nunca se sentiu menos interessante, menos atraente ou menos confiante por causa dessas comparações? Então porque é que justamente as mulheres, que sabem como é passar por situações como esta, não se apoiam ao invés reforçarem um padrão de beleza ilusório?
O Papel das Mídias e o Nosso Papel
É retrógrado pensar que uma pessoa deixa de estar bonita ou saudável porque está magra, gorda, musculosa ou com celulites. Claro que você pode achar qualquer pessoa feia, isso é normal, mas o fato de esquecer quem uma pessoa é, ou de achar que para ser bonita uma mulher tem que ter as medidas e formatos EXATOS dentro do padrão, é sim retrógrado, e mais retrógrado ainda é pensar que, por algum motivo, você tenha o direito de criticar alguém que NÃO PEDIU SUA OPINIÃO, ainda mais quando isso pode causar feridas.
Menos cobrança, mais empatia
E a crítica que chega a uma mulher famosa chega a outras milhares de mulheres na mesma intensidade, ou pior. Mulheres que são magras como a Marquezine, ou que engordaram como a Cléo, ou que tem celulites como a Paola, que são musculosas como a Gracyanne. Porque estas são mulheres como você e eu, são mulheres comuns, de carne e osso, que engordam e emagrecem, que comem batata-frita, que ficam sem tempo para treinar, que tem problemas pessoais, que pagam boletos, e com mais coragem do que talvez nós mesmas tenhamos, se expõem para a mídia e para uma sociedade mesmo sabendo que serão julgadas por serem elas mesmas. Ser julgado por ser você mesmo é como ser julgado por existir, e isso é horrível.
Então antes de atirar a primeira pedra, coloque-se no lugar do próximo, e coloque-se no seu lugar. Porque nós já tivemos por anos e anos, e continuamos tendo quem nos aponte o dedo, quem quer nos vender o ideal de corpo perfeito, quem quer que coloquemos silicone, que façamos lipoaspiração, e por isso somos todos os dias massacradas com uma realidade fora de alcance. Você pode discordar, pode decidir não apoiar a nenhuma causa (é um direito seu), mas será que é mesmo necessário que ataquemos umas às outras nas redes sociais e na vida, em favor de uma indústria que nos cobra em auto-estima? Pense nisso. O tempo gasto para fazer com que alguém se sinta mal pode ser usado para fazer algo de bom para você, e muitas vezes para o mundo também.
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